Poesias


HISTÓRIA VERÍDICA, QUE ACONTECEU NO SÍTIO LIVRAMENTO - 
ABAIARA - CE - JUNHO 3013

O PULO DA CANINANA

O senhor João Bernardino
Lá do Sítio Livramento
Um autêntico nordestino
Homem de muito talento
Agricultor respeitado
Querido e admirado
Em toda aquela ribeira
Com muita espontaneidade
Me contou uma verdade
Que parece brincadeira.

Ele me disse: Gilvan
Ouça o que vou lhe contar
Outro dia de manhã
Fui pra roça trabalhar.
Comigo dois companheiros:
Pedro Aleixo um dos parceiros
Que eu tenho como irmão
E Dóda meu grande amigo.
Esses dois foram comigo
Pra roça catar feijão.

A roça foi situada
Na beira de uma nascente
Lugar onde a bicharada
Passeia constantemente.
Pra beber chegam perdiz
Juriti e codorniz,
Nambu, rolinha e vém-vém.
O bem-ti-vi, o jacu,
Camaleão e teiú
E chega cobra também.

Seu João me disse: poeta
Naquele dia de apuro
A roça estava repleta
De feijão seco e maduro
E nós três na beira da mata
Do feijão fazendo a cata
Com a maior alegria
Depressa o tempo passou
E quando o almoço chegou
Era quase meio dia.

O sol no céu a brilhar
Quente como uma fogueira
E a gente foi almoçar
Debaixo de uma mangueira
Enquanto a gente almoçava
E contente saboreava
Arroz com carne de franga
A folhagem se boliu
Aí um bicho caiu
De cima do pé de manga.

Era uma caninana
Que naquela ocasião
Caiu de forma tirana
E esparramou-se no chão
Dóda tentou bater nela
Mas vendo o tamanho dela
Desistiu rapidamente
Pedro Aleixo nessa hora
Pegou um pau sem demora
Para matar a serpente.

A caninana ficou
de cabeça levantada
E quando Pedro chegou
Para lhe dar a paulada
Ela não sei de que jeito
Em direção ao seu peito
Voou como um avião
Com tanta força bateu
Que Pedro se estendeu
Com todo o corpo no chão.

E quando Pedro sofreu
Aquela queda incomum
Pensa que a cobra correu?
Correu de jeito nenhum.
Ficou foi em cima dele
tentando se enrolar nele
Fez o maior vai e vem
E pra completar a obra
Se alguém batesse na cobra
Batia em pedro também.

Naquele instante mesquinho
pra preservar sua vida
Pedro ficou bem quietinho
com medo de uma mordida
e a cobra ficou andando
por cima dele passando
indo e vindo a toda hora
querendo lhe dar um laço
e só depois de um bom pedaço
é que a bicha foi embora.

Quando a cobra se afastou
Pedro a Deus agradeceu.
Pois ela não lhe enforcou
Nem tão pouco lhe mordeu
Depois daquele alvoroço
Pedro nem quis mais almoço
E todos naquele momento
Ficaram a conversar
Sem querer acreditar
Naquele acontecimento.

Quem lá estava presente
E quase via uma desgraça
Fala que aquela serpente
Media mais de uma braça
A conclusão que se tem
É que tudo ficou bem,
Tudo bom, tudo bacana
E pelos cálculos que se faz
Pedro Aleixo nunca mais
Vai mexer com caninana



POESIA ESCRITA PARA O GRUPO RETALHOS E FUXICOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
CAMPUS CARIRI

DIVULGANDO A CULTURA NORDESTINA ATRAVESSO FRONTEIRAS TODO DIA

O trabalho que faço é o retrato
De um Nordeste que Deus fez progredir
Humorista fazendo o povo rir
O vaqueiro pegando o boi no mato.
Mostra o mestre Galdino lá no Crato
Dando vida a tudo quanto cria
Patativa escrevendo poesia
E Gonzagão arrastando a concertina.
Divulgando a cultura nordestina
atravesso fronteiras todo dia.

Sou um pássaro do chão do Cariri
Meu prazer é cantar de mundo afora
Juazeiro, Barbalha, Crato, Aurora
Brejo Santo, Abaiara e Mauriti.
Mas também já cheguei até Madri
Lá em Cáceres cantei com alegria
Tô chegando na Rússia, na Turquia 
Nos Estados Unidos e na China.
Divulgando a cultura nordestina
atravesso fronteiras todo dia.



POESIAS DO LIVRO "NOSSA VIDA NO SERTÃO"

OBRIGADO MEU DEUS PORQUE ME FEZ SERTANEJO, POETA E SONHADOR

Me criei trabalhando no roçado 
Produzindo feijão, milho e quiabos
Tenho as mão calejadas pelos cabos
Da enxada, da foice e do arado
Cortei muita madeira de machado
Trabalhei com chibanca e cavador
Apesar de pequeno e sofredor
Me orgulho de ser um camponês
Obrigado meu Deus porque me fez
Sertanejo, poeta e sonhador

Obrigado meu Deus por ter me dado
O direito de ser um sertanejo
Me criar com qualhada, leite e queijo
Rapadura, pamonha e milho assado
Ver a dança do côco e de reisado
Escutando a pancada do tambor
Assistir sanfoneiro e cantador
Cada fim de semana, todo o mês
Obrigado meu Deus porque me fez
Sertanejo, poeta e sonhador

Deus me deu este dom da poesia
E é com ele que canto a minha terra
A floresta, a planície, o vale, a serra,
O rochedo e a fonte de água fria
Passarinhos que fazem cantoria
Quando a noite se finda e perde a cor
O balé do pequeno beija-flor
Campeão de beleza e rapidez
Obrigado meu Deus porque me fez
Sertanejo, poeta e sonhador

Sou poeta porque vivo cantando
Em estúdio, em mansão e em palhoça
Sertanejo porque nasci na roça
O lugar onde ainda estou morando
Sonhador porque sempre estou sonhando
com um mundo melhor e promissor
onde exista união, paz e amor
e as pessoas respeitam nossas leis
Obrigado meu Deus porque me fez
Sertanejo, poeta e sonhador 

Minha infância vivi numa casinha
Com meus pais e meus manos do meu lado
O meu pai era o chefe do roçado
Minha mãe era a dona da cozinha
Até hoje me lembro que pai tinha
um cachorro por nome vencedor
Que era desses que ajuda o lavrador
comer carne numa ano de escassez
Obrigado meu Deus porque me fez
Sertanejo, poeta e sonhador

Com o sonho de ser um violeiro
Muitas vezes brinquei de cantoria
A viola era eu mesmo quem fazia
De um pedaço de palha de coqueiro
Não sabia fazer quadrão mineiro
Nem tão pouco um pergunta cantador
A cantar um poema de amor
Quase sempre eu errava o português
Obrigado meu Deus porque me fez
Sertanejo, poeta e sonhador

Com dez anos de idade eu ajudava
Meu avô desleitar a vacaria
Muito cedo da noite eu já dormia
Muito cedo do dia eu despertava
Quando o galo cantava eu acordava
Pois ali por aquele interior
É o galo o melhor despertador
Pra quem vai trabalhar antes das três
Obrigado meu Deus porque me fez
Sertanejo, poeta e sonhador

Como um homem poeta e repentista
Vivo sempre a buscar novos espaços
Já passei pela dor de alguns fracassos
Mas já tive bem mais de uma conquista
Amo a vida sou super otimista
Sou roceiro e também sou trovador
E agradeço demais ao criador
Por me dar tudo isto de uma vez
Obrigado meu Deus porque me fez
Sertanejo, poeta e sonhador



JOÃO E MARIA RITA

João e Maria Rita
Namoravam na aldeia
Maria era muito feia
Mas João lhe achava bonita
Maria usava uma fita
Amarrando o pixaim
E João com amor sem fim
Lhe abraçava sem sinismo
E cheio de romenatismo
Pra ela dizia assim:

-Você com este cocó
Amarrado nesta fita
Só parece uma cabrita
Com uma corda no gogó
Seu pescoço é de socó
Sua tromba é de suíno
Seu nariz parece um sino
E quando você se ajeita
É a figura perfeita
Pra fazer medo a menino.

Quando você pega o prato
Na hora da refeição
Parece um camaleão
Comendo folha de rato
O seu fucinho de rato
É um legítimo tesouro
Eu pego em seu cabilouro
Aí a gente se encara
E é mesmo qu’eu ver a cara
De um bode tirado o couro.

Por este rostinho seu
Eu tenho grande carinho
Me faz lembrar o rostinho
De vovó quando morreu
Seus braços cor de pneu
Quando vêm pra me abraçar
Eu não posso controlar
Minha infinita emoção
Pois eu tenho a impressão
Que a morte quer me levar.

Nesse seus pés eu me amarro
Porque nenhum se acabrunha
E embaixo de cada unha
Tem meio quilo de barro
Sem falar no seu cigarro
Que é nicotina pura
E você com toda ternura
Larga fumaça em meu rosto
E eu chaga fico indiposto
Me acabando de gastura.

Tudo seu me faz feliz
Unha, dedo, mão e braço
Clavícula, ombro, cachaço,
O queixo, a boca e o nariz.
Seus olhos de codorniz
Me deixam mais do que louco
Você sentada num toco
Ali na beira do mato
É o legítimo retrato
De um caboré de ôco.

Tudo em você se destaca
Seu cabelo pixaim
Parece mais um cupim
Na cabeça de uma estaca
Este seu andar de vaca
Arrastando os pés no chão
Meche com meu coração
Me trazi ntranquilidade
E eu sinto louca vontade
De lhe dar um empurrão.

Maria não se aborreça
Pois eu faço até promessa
Pra ouvir sua conversa
Que não tem pé nem cabeça
Por bondade reconheça
Que eu estou lhe elogiando
Você só fala miando
Sua besteira é infinda
E quem não lhe conhece ainda
Não sabe o que está ganhando.

Minha amada Mariinha
Veja que eu não sou tolo
Já compre telha, tijolo
Porta, ripa, caibro e linha
Vou fazer uma casinha
E te garanto querida
Depois da casa construída
Eu vou me casar contigo
Só pra ter você comigo
Até o final da vida.

Assim João e Maria
Viviam bem satisfeitos
Uma amor sem preconceito
Uma amizade sadia
Até que um lindo dia
Chegou o grande momento
O prazo do casamento
Que dia extraordinário
Foram aos pés do vigário
Receber o sacramento.

Perante o reto juiz
Uniram-se com alegria
E até hoje João e Maria
Formam um casal feliz
João as vezes ainda diz
As mesmas coisas e então
Maria sem confusão
Impõe o mesmo critério
Ouve mas não leva a sério
As brincadeiras de João.


Um comentário:

  1. Boa tarde Gilvan Grangeiro. Gostaria de saber o nome de um poema seu q escutei certa vez na radio educadora. Falava de um homem que se apaixonava por sua empregada fazendo tudo por ela e a esposa ficava muito enciumada! Parabens. Aguardo retorno

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